Na TV Globo, Ciro diz que 2º turno entre Lula e Bolsonaro já começou

"Sobre a terceira via, ninguém é capaz de incorporar um sentimento. O Moro, por exemplo, é um aproveitador do momento", disse o ministro
17 de março de 2022, às 11:00 | Douglas Cordeiro

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Nesta quarta-feira (16/10), o Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, recebeu o jornalista Pedro Bial, para uma entrevista no Palácio do Planalto.

Vários assuntos foram tratados desde as críticas feitas por Ciro após a eleição de Bolsonaro até a disputa com o ex-presidente Lula.

A coluna fez um resumo dos principais pontos.

PEDRO BIAL - O desafio de participar do executivo?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Eu sempre tive uma paixão muito grande pelo legislativo. Nunca pretendi participar do executivo. Se não estivesse na Casa Civil, iria disputar o governo do Piauí. Eu nunca imaginei ser ministro. Sempre gostei mais da atuação partidária. Mas este desafio da Casa Civil, o momento de que o país estava vivendo, de instabilidade, de conflitos, fez com que eu aceitasse este desafio.

PEDRO BIAL - CPI da COVID-19, problemas na compra de vacinas, ex-chanceler comprava briga com nossos parceiros de interesse nacional.

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Tudo foi difícil. A CPI foi um momento muito triste de Congresso Nacional. As pessoas colocavam a questão da vaidade, de aparecer, querendo criar narrativas que eram absurdas. Chegou-se ao ponto de querer comparar aquilo ao holocausto. E eu dizia que isso, na eleição, vai cair por terra. Hoje o Brasil foi chamado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para escrever um tratado sobre a pandemia entre seis países do mundo. O mundo não estava preparado, o Brasil errou também. Mas hoje, isso é incontestável, é um exemplo para o mundo em vacinação.

PEDRO BIAL - Mas o Brasil também foi exemplo de negacionismo e a sua chegada, representou uma interrupção no discurso negacionista.

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - O negacionismo foi generalizado em nosso país. O maio0r negacionismo foi da oposição que negou que nós estávamos comprando vacinas, que fizemos o maior programa assistencial da nossa história, o negacionismo foi total e não foi só de um lado. O Brasil e o mundo erraram. Os grandes líderes mundiais tiveram problema, Angela Merkel perdeu a eleição na Alemanha, Donald Trump perdeu a eleição nos Estados Unidos.

PEDRO BIAL - Jair Bolsonaro vai ganhar a eleição?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Eu não tenho dúvida. Não tenho dúvida.

PEDRO BIAL - Se a gente comparar a campanha eleitoral a uma luta de boxe, em que round a gente está agora?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Está no início. Eu cheguei a dizer que o PT estava no início do jogo, os atletas aquecendo e o PT pedindo para acabar o jogo. Ainda nem começou. Um presidente nunca deixou de ser reeleito no país.

PEDRO BIAL - Por quais motivos? Por causa da máquina?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - O sentimento hoje é que as pessoas têm direito a um segundo mandato. A não ser que o mandato seja muito ruim. Com exceção da Dilma, que o segundo foi inferior, o segundo mandato do Lula foi melhor que o primeiro.

PEDRO BIAL - Há controvérsias. Você mesmo disse que o Lula de 2002 foi melhor que de 2006.

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Eu acho que errei. O Lula que já está vindo aí não é o de 2002 e sim o de 1989. Foi um erro meu de avaliação. Ele saiu da prisão e ficou aprisionado do PT. Duvido que sente aqui, com você, para dá uma entrevista.

PEDRO BIAL - Mas convenhamos, você como político, sabe que ele na frente das pesquisas, numa lógica na qual eu não concordo, ele não precisa dá entrevista.

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Mas não precisa sair na rua? Ele não pode sair na rua. Os estados onde ele tem maior percentual de votos é Piauí e Maranhão. Ele foi no meu Estado (Piauí) e não pode sair na rua. Ele está aprisionado. Com medo de que as pessoas vejam quem está ao lado dele. O Lula, tudo bem, mas coloca A Dilma do lado dele, coloca a Gleise Hoffmann para ver se o povo quer que estas pessoas voltem. Este é o problema, o Lula não pode fazer campanha.

PEDRO BIAL - Sobre suas críticas feitas a Bolsonaro após a eleição?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Eu tinha este conceito do deputado Bolsonaro. Quando eu conheci o presidente Bolsonaro eu fico pensando neste país se o Haddad tivesse ganho a eleição. Não tínhamos feito reforma da previdência, nós tínhamos o Palocci ou o Mantega no comando, a Dilma no Ministério da Casa Civil. Como é que ia ser? Quando fosse necessário liberar R$ 700 bilhões de reais para cuidar das pessoas e dos empregos? Esse país teria sido um caos e ele não teria terminado este mandato. Um Congresso reformista, era Rodrigo Maia adversário deste pessoal. Eu conheci o Bolsonaro, presidente. Houve um amadurecimento de parte a parte. Veja o conceito que o presidente tinha do centrão. Nós tivemos que nos unir para transformar o nosso país. Eu juro, pelo meu perfil conservador, que tenho mil vezes mais identificação com o Bolsonaro do que com o PT. Não fomos nós que apoiamos as teses do PT, foi o contrário, nós trouxemos o PT para manter a questão das privatizações, você nunca me viu defendendo estatização como o Lula defende hoje.

Ministro Ciro Nogueira / FOTO: Gazeta Brasil

PEDRO BIAL - Se a gente depreende que fascismo dá e passa, isso significa que pode ter uma recaída.

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Não vejo como. O presidente Bolsonaro de 2022 é bem melhor que o de 2018. Ao contrário do Lula.

PEDRO BIAL - Que Lula foi o melhor presidente da história do Brasil?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - O Lula que veio para combater a miséria. A diferença é que o Lula de hoje veio para trazer o poder para o seu partido. É diferente. São pessoas que não podem sair nas ruas, não podiam pegar um avião, foram alijadas da sociedade, do processo político e estão querendo voltar de todas as formas, através do Lula, porque se não for com ele, não vem.

PEDRO BIAL - É uma campanha dura que se avizinha, qualquer que seja o vencedor, as projeções são de que não vai ganhar por muito. Ano de campanha, inflação é tudo que um candidato a reeleição não quer, temos o aumento dos combustíveis, não tem dinheiro para bolsa, qual o caminho a seguir neste momento?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - A grande diferença do presidente Bolsonaro para os outros presidentes é que ele não coloca a questão eleitoral acima dos interesses do país. Se não fosse assim, ele não teria tornado o Banco Central independente. Já pensou o Banco Central agora, focado na reeleição como foi o caso do Fernando Henrique Cardoso? Fernando Henrique foi reeleito com o Banco Central. Ele foi reeleito com aquele estelionato eleitoral feito com o Banco Central. Por que a Petrobras não segura os preços? Porque não tem como. Porque 30% do óleo diesel do nosso país é importado. Os importadores não podem comprar a 10 e vender a 7. Se não fosse este aumento do combustível agora, em abril iria faltar diesel no nosso país.

PEDRO BIAL - Então o que fazer?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Nós temos um momento agora de dividir o custo e o sacrifício com a população. O governo zerou todos os impostos federais. Os governadores estão arrecadando 36% a mais em um período de crise, de guerra. Não é justo. Nós estamos agora torcendo e se Deus quiser vai acontecer, de acabar esta maldita guerra e o preço do barril despencar. Porque as vezes você toma uma medida errada e o dólar sobe e aí tira qualquer efeito deste sacrifício. Eu espero que daqui a trinta dias este preço recue e a gente não precise repassar este preço para a população. O Brasil, das grandes economias mundiais, é o único que não tem 100% do refino. Porque aquelas refinarias, que era para ficar prontas no governo do PT, não ficaram prontas. Se tivesse acontecido, aí sim, a Petrobras não poderia aumentar.

PEDRO BIAL - Uma das propostas para baixar a inflação é dá subsídio ara baixar o preço do combustível. Você é a favor de subsidiar o diesel que afeta na cadeia de consumo?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Se nós tivermos que fazer alguma ação é o com o diesel. Eu acho que nós temos que focar neste momento de crise e de guerra, no diesel.

PEDRO BIAL - O senhor vem fazendo com excelência o papel de distensionar ânimos, mas o presidente insiste em atacar. O senhor já pediu ao presidente para diminuir estas declarações?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Hoje o país está muito mais tranquilo. Vão acabar todos as distensões? Não vão acabar. Nós temos um presidente muito autêntico, muito espontâneo, que fala o que pensa, isso podem achar que é ruim, mas isso é importante para ele porque as pessoas enxergam verdade quando ele se comunica. Nunca tivemos um presidente tão massacrado quanto a mídia como ele. Se o presidente mudar essa espontaneidade será um grande erro. Nós temos um Bolsonaro muito mais experiente.

PEDRO BIAL - Que ministro do STF você já viu pisando fora das quatro linhas?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Depois que foi criada a TV Justiça as pessoas passaram a falar muito fora dos autos. Não vou citar nomes, sou amigo da maioria dos ministros, decisão judicial se cumpre, dá opinião sobre tudo, tinha superexposição de alguns ministros. Eu acho que hoje a um certo equilíbrio.

PEDRO BIAL - Por que que a terceira via virou piada?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Porque não tem ninguém capaz de incorporar um sentimento. O Moro, por exemplo, é um aproveitador do momento. O segundo turno já começou. Daqui a dois meses o presidente já está empatado com o Lula e Nas convenções ele vai estar frente.

PEDRO BIAL - Aceitando o resultado das urnas eletrônicas, seja ele qual for?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Eu confio nas urnas eletrônicas do nosso país. Agora, eu não acho que elas não podem ser fraudadas. Tem que haver uma vigilância dos partidos que sempre foram omissos. A escolha do eleitor é a coisa mais sagrada.

PEDRO BIAL - A sua chegada significou a entrada do “centrão” no governo e para outros a entrada do governo no “centrão”. O general Heleno já pediu desculpas em relação àquela música?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Eu também falei aquela bobagem sobre o fascismo. O general é um grande amigo, um conselheiro que eu tenho. Hoje nós temos um governo muito melhor do que o que começou. Nada foi aprovado neste país que não passasse pelo partido de centro.

PEDRO BIAL - O que se diz é que hoje você tem a chave do cofre. Você diz que não tem “porteira fechada”, mas você guarda a chave na mão. A porteira pode não está fechada, mas o porteiro é firme e poderoso?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Foi uma proposta do ministro Paulo Guedes para dividir o ônus do “não”. Com essa divisão de atribuição vai ficar mais claro quando as coisas não acontecerem existe o interesse do presidente que elas não podem ou podem acontecer naquele momento. Mas a decisão final é do presidente.

PEDRO BIAL - Zé Dirceu que ocupou esta sala e dizia a esquerda ia ficar 20 anos. A direita veio para ficar?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - A eleição mais difícil vai ser essa. Acho muito difícil o Bolsonaro reeleito não eleger o sucessor.

PEDRO BIAL - Um Ciro?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Eu, não. Vou cumprir meu mandato na Casa Civil até o final do ano. Já cumpri o meu papel. Está na hora de outra de virem outras pessoas no meu lugar.

PEDRO BIAL - Seu candidato no Piauí vai colocar Bolsonaro no palanque e atacar o Lula?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - Quem vai governar não é o Bolsonaro, são as pessoas de lá. O presidente Bolsonaro não vai ganhar no Nordeste, mas a diferença vai ser bem menor.

PEDRO BIAL - O poder é o maior afrodisíaco?

MINISTRO CIRO NOGUEIRA - O poder dá uma adrenalina. As vezes eu fico pensando de parar, mas me dizem que eu não vou conseguir. Eu cheguei no auge da minha carreira, agora não vou me manter por muito tempo. Vai chegar alguém que vai contribuir mais do que eu.

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